Capacitados para acolher casos de violência após alunos ficarem mais de um ano fora das escolas, professores tiveram relatos chocantes na primeira semana de volta às aulas em Campo Grande. Seis denúncias de abuso sexual que chegaram ao conhecimento das escolas foram encaminhadas aos conselhos tutelares e serão apuradas pela Polícia Civil, através da Depca (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente).
Os seis casos relatados nas escolas envolvem crianças e adolescentes, que tiveram a iniciativa de chegar nos professores para relatar os abusos sofridos, geralmente dentro de casa. “A maioria dos casos que chegaram até nós tem como suspeitos pessoas próximas, ou são familiares, vizinhos, alguém que mora junto”, destaca a superintendente de gestão e normas da Semed (Secretaria Municipal de Educação), Alelis Isabel de Oliveira Gomes.
Para acolher esses casos, durante os meses sem aulas, ao invés de alunos serem atendidos, os professores foram capacitados por uma equipe de 14 psicólogos, dentro do programa Valorização da Vida, da Superintendência de Gestão e Normas da Semed. “Durante todo o período da pandemia, conversamos com professores e eles foram capacitados para acolherem os alunos. Como foi um tempo extenso que ficaram em casa e geralmente a escola que nos aponta esses casos, estávamos preparados”, explica Alelis.
De acordo com a superintendente, os casos que chegaram ao conhecimento das escolas, já foram levados ao conhecimento da polícia. “A criança é acolhida, o Conselho Tutelar é acionado e o caso levado ao conhecimento da polícia para investigação”.
O programa Valorização da Vida, da Superintendência de Gestão e Normas, foi criado em 2018 e já se tornou lei de Política Pública do município de Campo Grande. Ele é baseado em atender crianças e adolescentes, dentro das unidades escolares, vítimas de qualquer tipo de violência.
Capacitação
Em quatro lives, das quais três ocorreram nos dias 18, 20, 25 e 27 de maio, foram expostos os sinais desse tipo de violência que vitima crianças e adolescentes, com o objetivo de mostrar que é possível identificar a vítima mesmo antes que ela passe pela violência, e mostrar como proceder quanto aos encaminhamentos quando o crime já houver se concretizado.
“É um assunto delicado. Estamos mostrando para os profissionais e dizemos, mais uma vez aos educadores e a todos que nos assistem, os sinais que a criança apresenta quando está sendo vítima de violência. Então os profissionais de educação, principalmente as assistentes de educação infantil, aquelas quem primeiro recebem as crianças, devem se atentar aos sinais físicos do corpo machucado, aos choros, àquela criança que não quer trocar roupa ou ir embora quando os pais ou o responsável vão buscar. Todos os profissionais da educação têm o dever de conhecer esses sinais”, explica Alelis.
A delegada da Depca, Eliane Cristina Benicasa ressaltou a importância de formar os professores e trabalhadores da educação e sobre a observação destes para ajudar no combate aos abusos e à violência, e frisou sobre os sinais que as crianças vítimas apresentam. “Os indícios são importantes. Os professores são o nosso olhar nas escolas, por isso devem ficar atentos quando as crianças mudam de humor, entram em depressão, encontram-se automutiladas, com doenças sexualmente transmissíveis, evitam determinados amigos e familiares”, afirmou a delegada.
A psicóloga do Núcleo de Promoção e Defesa dos Direitos da Criança e Adolescente (Nudeca) da Defensoria Pública do Estado, Ana Priscila Benevenuto, comentou quais são os sinais mais comuns demonstrados pelas vítimas, dentre os quais está a mudança de comportamento, regressão a alguns comportamentos infantis que já foram deixados, silêncio ou quietude e retraída ao conversar certos assuntos, mudanças de hábitos e rotinas, como no caso do sono.
Outros sinais também são a falta de apetite, agressividade, alterações de humor, comportamentos sexuais não esperados para a idade, interesse de mais em questões sexuais, erupções no corpo, vômito e febre. “Ante esses sinais, precisamos ficar atentos com a criança, pois não é comum, se não tem nenhuma doença preexistente, para causar esse tipo de situação. Também, há mudança na frequência, no rendimento escolar e na concentração ao desenvolver as atividades escolares”, explicou a psicóloga.
Fonte: Midia Max
Imagem: Leonardo de França