Cabeças humanas foram encontradas em locais de votação das eleições do México deste domingo (6) em Tijuana, na fronteira com os Estados Unidos. Outras partes de corpos humanos também foram deixadas em uma das seções eleitorais e em outros pontos da cidade.
De acordo com o jornal “El Universal”, a primeira cabeça foi colocada em uma caixa branca e verde durante a manhã, pouco antes do início da votação. Pela tarde, outra cabeça foi deixada em outro bairro da cidade, informou a agência EFE.
Nenhuma pessoa considerada suspeita de ter deixado as cabeças nos locais de votação foi presa ou identificada até a última atualização desta reportagem. Também não se sabe quem seriam as pessoas mortas decapitadas e se havia relação com o crime organizado na região.
O México renova, neste domingo, sua Câmara de Deputados e cerca de 20 mil cargos locais, em uma eleição marcada pela pandemia e a violência, que colocará à prova o presidente Andrés Manuel López Obrador (leia mais adiante nesta reportagem sobre as eleições mexicanas).
Em outras cidades, houve episódios de agressão a eleitores e depredação de locais de votação. Há registro de roubo de células eleitorais.
Na campanha, desde setembro, estima-se que 91 políticos foram assassinados. Desses, 36 eram candidatos ou pré-candidatos.
Eleições no México: o que está em jogo
Os centros de votação foram abertos às 8h (10h no horário de Brasília) para os cerca de 95 milhões de eleitores mexicanos. Além da votação que renovará a Câmara, eles elegerão 15 dos 32 governadores, num momento em que o país completa 20 semanas com números em queda da Covid-19. A eleição tem caráter plebiscitário para o presidente Andrés Manuel López Obrador, eleito em 2018 por seis anos e cuja popularidade ultrapassa 60%, segundo pesquisas.
“O presidente continua sendo o principal ator de todo o ecossistema político”, afirma a analista Paula Sofia Vázquez.
As eleições reeditam o processo em que López Obrador, de 67 anos, emergiu como candidato “antissistema” contra a corrupção dos partidos tradicionais PRI (centro), PAN (conservador) e PRD (esquerda), hoje unidos contra o Morena, governista.
Foto: Fernando Llano/AP
Essa coalizão “veio para confirmar a narrativa do presidente de que todos eram contra ele” e seu chamado à “transformação”, acrescenta Vázquez.
Em 2018, AMLO, como é chamado o presidente, obteve dois terços dos 500 deputados, uma “maioria qualificada” que permite a modificação da Constituição. Agora ele tenta manter esse controle, mas resultados díspares na economia, segurança e saúde não garantem isso.
A economia mexicana, a segunda maior da América Latina, despencou 8,5% em 2020 arrastada pela pandemia, mas o governo espera uma recuperação de 6,5% este ano.
Enquanto isso, a violência dos cartéis de drogas persiste — com mais de 83.000 assassinatos nos últimos seis anos —, embora as autoridades relatem uma queda de 1,3% em 2020, a uma taxa de 27,01 homicídios por 100.000 habitantes. A aliança oficialista passaria de 333 para 322 cadeiras, mantendo assim a “maioria simples” (metade mais um) necessária para aprovar leis ordinárias, segundo levantamento consolidado da Oraculus.
Entre as reformas propostas por López Obrador estão a do setor de energia — que devolveria o protagonismo ao Estado —, uma eleitoral e outra fiscal, segundo analistas. Desde 1997, as eleições parlamentares reduziram ou arrancaram as maiorias dos partidos no poder.
A coalizão do Morena seguiria esse caminho, mas por muito pouco, graças à popularidade de AMLO, que promove vastos programas de apoio monetário a setores vulneráveis, diz Vázquez.
“Nunca ficamos sem comer, recebemos apoio nessa pandemia”, afirma Édgar Alonso, um comerciante da Cidade do México.
ete em cada 10 famílias recebem auxílio do governo, que enfrenta uma oposição difusa.
Assim, o perigo para o partido no poder são seus demônios internos, desencadeados por uma suposta opacidade na seleção de candidatos e a polêmica sobre o apoio de López Obrador a um candidato a governador acusado de abuso sexual, que acabou abandonando a disputa.
Fonte: G1