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Entenda: o que se sabe sobre a variante indiana do coronavírus identificada no Maranhão

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Seis tripulantes de navio ancorado no estado apresentaram resultado positivo para a B.1.617.2, primeiros registros da cepa no Brasil

Os primeiros casos no Brasil de Covid-19 provocados pela variante do coronavírus que emergiu na Índia foram confirmados pelo governo do Maranhão nesta quinta-feira. A B.1.617.2 foi identificada em seis tripulantes do navio Mv Shangon Da Zhi, ancorado no estado, que viajou da África do Sul até São Luís.

Entenda o que se sabe até agora sobre a variante do coronavírus:

Por que a variante indiana preocupa?

Em coletiva nesta quinta-feira, o diretor-geral do Laboratório Central de Saúde Pública do Maranhão (Lacen-MA), Lídio Gonçalves, explicou que a variante indiana detectada no Maranhão é a B.1.617.2, uma das variações da cepa identificada pela primeira vez em dezembro na Índia. Ele destaca que recentemente a Organização Mundial da Saúde (OMS) a classificou como uma variante “de atenção”, o que significa que está relacionada com maior capacidade de transmissão. Mas ele ressalta que todos os tripulantes do navio ancorado em São Luís estão isolados e não foi identificada transmissão local. 

A variante indiana B.1.617 foi classificada pela OMS como uma “preocupação global” na semana passada. “O que há disponível de informação indica uma transmissibilidade acentuada”, disse Maria Van Kerkhove, uma das principais autoridades técnicas da OMS em Covid-19, em coletiva no dia 10.

Quais as especificidades da variante indiana?

O virologista Fernando Spilki, coordenador da Rede Corona-ômica — formada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, que opera com universidades e centros de pesquisa fazedo sequenciamento do vírus no Brasil — explica que quando se fala da variante indiana, existem pelo menos três sublinhagens dentro dela. Duas têm ocorrido mais: a B.1.617.1 e a B.1.617.2, que foi identificada nos pacientes no Maranhão e é mais frequente nos bancos de dados mundiais, segundo o pesquisador.

Elas têm em comum particularmente uma mutação na proteína “spike” — que faz a ligação do vírus com a célula do hospedeiro — a L452R, que já foi associada a uma maior transmissibilidade em outras variantes, como as americanas, explica o virologista. Algumas delas têm outras mutações, como E484Q, ele acrescenta. Essa mutação é parecida com a E484K, presente nas variantes P1 e P2, que se espalharam pelo Brasil.

Spilki afirma que a variante indiana está dentro do aspecto de transmissibilidade conhecido para a variante britânica e para a P1, por exemplo. “Os problemas que ela causa, como as outras variantes, estão relacionados não só ao vírus mas também ao manejo que se dá. São vírus que são excretados em quantidades maiores, por mais tempo. Se a gente não toma medidas restritivas, vão ter mais chance de se transmitir”, explica o virologista.

Vacinas funcionam contra a variante?

Segundo Gonçalves, os estudos preliminares mostram que as vacinas funcionam contra essa variante, mas ainda são necessários mais dados para se ter uma posição definitiva sobre a eficácia dos imunizantes contra a cepa indiana.

Quais cuidados devemos tomar?

O diretor do Lacen-MA explica que a variante indiana segue “basicamente” o padrão das outras variantes de preocupação que existem, como a P1, que circula largamente no Brasil. As medidas centrais de proteção continuam sendo as mesmas.

O superintendente de Vigilância Sanitária do Maranhão, Edmilson Diniz, destacou a importância de se manter o uso de máscara, higienização das mãos, etiqueta respiratória, higienização de superfícies, distanciamento social e evitar aglomerações.

E o que as autoridades sanitárias devem fazer?

O secretário de Saúde do Maranhão e presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Carlos Lula, afirmou que cerca de 100 pessoas tiveram contato com os tripulantes do navio contaminados com a variante indiana estão sendo rastreadas e serão isoladas e testadas. Segundo a Secretaria de Saúde do estado, a Vigilância Sanitária Estadual também notificou a empresa responsável quanto a proibição do navio atracar na área portuária em São Luís.

Carlos Lula defendeu, nesta quinta-feira, cuidados mais rígidos nas fronteiras do país e criticou a resposta “ainda muito lenta” do Ministério da Saúde para esse tipo de problema.

O governo brasileito suspendeu voos da Índia na última sexta-feira, dez dias após recomendação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

“Na Argentina, qualquer pessoa que desembarca de voo internacional faz exame, e se der positivo, é isolado, por exemplo. Isso talvez fosse uma medida necessária para o Ministério pensar nos portos, aeroportos e fronteiras. Essas medidas cabem ao próprio Ministério da Saúde. Fiz pedido nesse sentido ao ministro essa manhã”, afirmou o secretário.

O GLOBO pediu resposta ao Ministério da Saúde, que apenas informou, em nota, que desde a comunicação dos casos suspeitos, no dia 13 de maio, “todas as medidas de prevenção e controle foram adotadas” pela pasta, “como o isolamento da tripulação, rastreamento e monitoramento das pessoas contaminadas”.

A sanitarista e pesquisadora da UFRJ Ligia Bahia concorda com a necessidade de controlar portos e aeroportos. “Como já dissemos desde o anúncio da variante indiana”, diz. Ela também destaca a importância da vigilância genômica, para ser possível saber quais variantes estão circulando e tomar “medidas mais focalizadas de prevenção”.

Qual pode ser o impacto da variante no país?

Ligia Bahia afirma que com o cenário epidemiológico do país, “caracterizado por altas taxas de transmissão e óbitos e ritmo lento de vacinação”, seria ainda mais difícil controlar a doença com a disseminação de mais uma variante, que parece se espalhar mais rapidamente. “Como se estivéssemos diante de uma lebre com vacinação tartaruga”, ela compara.

Fonte: O Globo